Respirar Fisioterapia

Um consenso específico para síndrome do desconforto respiratório agudo em pediatria (pSDRA).

Mostramos na publicação anterior que as crianças são menos acometidas pelo COVID 19 e dentro deste grupo uma parcela ainda menor pode apresentar sintomas graves e evoluir para a Síndrome do desconforto respiratório agudo. Trazemos neste momento um artigo importante publicado em 2015 na Revista Brasileira de Pediatria (link no final) que explica e cria um consenso para esta síndrome e passa a ser descrita como Pediatric Acute Lung Injury Consensus Conference (PALICC). Importante salientar e peço atenção especial ao item número 5 neste resumo que fala sobre o Ìndice de Oxigenação.

A PALICC teve como objetivo definir síndrome do desconforto respiratório agudo em pediatria (pSDRA), especificando fatores predisponentes, etiologia e fisiopatologia; fazer recomendações sobre tratamento; e identificar prioridades de pesquisa. O consenso foi desenvolvido por 27 experts convidados por suas atividades de pesquisa em pSDRA e intensivismo pediátrico nos últimos 5 anos, representando 21 instituições acadêmicas em 8 países. As conferências foram realizadas num período de 2 anos (2012/2013) com 3 encontros para discussões de 9 tópicos de pSDRA e votação das recomendações. Um total de 151 recomendações foram analisadas, usando escala de RAND/UCLA (escore de 1 a 9), sendo consideradas “fortes” quando todos experts classificavam a recomendação com escore ≥ 7. A recomendação foi considerada “fraca” quando pelo menos um especialista classificou com escore abaixo de 7, mas a média de votos foi ≥ 7. Mesmo assim, as recomendações consideradas fracas foram revisadas e votadas novamente. Das 151 recomendações, 132 foram consideradas “fortes” e 19 “fracas”. Neste documento,(32) houve um grande avanço com a construção de uma definição específica de SDRA em pediatria (pSDRA), havendo “forte recomendação” nos seguintes aspectos:

1) Faixa etária – A pSDRA pode acometer todas as faixas etárias pediátricas, desde o período neonatal até a adolescência. Evidentemente estão excluídas as causas de hipoxemia aguda do período neonatal como doença pulmonar relacionada a prematuridade, lesão pulmonar perinatal (como síndrome de aspiração de mecônio, pneumonia e sepse adquiridas durante o parto) e outras anormalidades congênitas (como hérnia diafragmática congênita ou displasia alvéolo capilar).

2) Intervalo – O aparecimento de hipoxemia e mudanças radiológicas devem ocorrer em um intervalo de até 7 dias após uma agressão clínica conhecida.

3) Comprometimento miocárdico – Não há exclusão de pacientes com cardiopatias. Crianças com disfunção ventricular esquerda, mas que venham a apresentar hipoxemia de instalação aguda com novas alterações na radiografia de tórax, não explicadas pela insuficiência cardíaca ventricular esquerda ou sobrecarga hídrica, com todos outros critérios de pSDRA, são aceitas como tendo a síndrome.

4) Radiografia de tórax – É necessária a presença de achados radiológicos de novos infiltrados consistentes com doença do parênquima pulmonar, mesmo que unilaterais. Novos estudos devem ser feitos para padronizar a interpretação dos achados radiológicos e reduzir a variabilidade na interpretação.

5) Definição da hipoxemia – é fortemente sugerido adotar o índice de oxigenação (IO = Pma x FiO2 / PaO2 , em que Pma corresponde à pressão média de via aérea) em preferência ao PaO2 /FiO2 (recomendado no consenso de Berlin para adultos) para o quantificar o grau de hipoxemia e classificar a severidade da SDRA em pacientes pediátricos em ventilação mecânica invasiva. Na eventualidade de não dispor da PaO2 , pode-se utilizar o índice de saturação de oxigênio (ISO = Pma x FiO2 /SatO2 ), nas mesmas condições propostas para o IO.

Uma grande diferença da pSDRA em comparação com a definição de Berlim foi o abandono da relação PaO2 /FiO2 para graduar a severidade da SDRA em favor do IO ou ISO. Ao adicionar a Pma no cálculo, inclui-se, de forma objetiva, o impacto da pressão positiva na oxigenação. Essa inclusão é fundamental, pois é bem conhecido que diferenças no manejo do respirador podem influir decisivamente na relação PaO2 /FiO2 e, consequentemente, na real incidência e severidade da classificação da doença. Evidentemente, essas projeções e benefícios teóricos do emprego do IO aguardam por confirmação em pesquisas pediátricas que avaliem sua sensibilidade e especificidade na identificação e classificação de pSDRA.

Artigo na íntegra em http://www.scielo.br/pdf/rbti/v27n3/0103-507X-rbti-20150035.pdf Copyright © 2015 Revista Brasileira de Pediatria Dúvidas e Sugestões em nosso e-mail: contato@respirarfisioterapia.com.br

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